Em meio a uma greve de professores e a manifestações que pararam por duas sextas-feiras a Avenida Paulista, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), convocou hoje 300 educadores para o anúncio do pagamento do Bônus por Resultado de 2010, no Palácio dos Bandeirantes. Os convidados aplaudiram com vigor o discurso do governador e do secretário estadual da Educação, Paulo Renato Souza. Serra aproveitou os holofotes para se colocar como o comandante de uma "revolução silenciosa" na educação paulista, que "vai marcar época". O tucano não mencionou a greve em seu discurso e deixou o evento sem falar com a imprensa.

O governo estadual trata a paralisação, iniciada há 15 dias, como uma "tentativa de greve" com motivações políticas. O governador, virtual candidato tucano à Presidência, vem se deparando com protestos da categoria. Na quarta-feira, manifestantes jogaram um ovo no carro de Serra em Francisco Morato, na Grande São Paulo. Na quinta, o governador desistiu de ir à inauguração de uma obra viária na Capital, onde 50 sindicalistas o aguardavam com faixas e apitos.

"Estou convencido de que estamos fazendo uma revolução silenciosa, mas eficaz no sistema de ensino estadual", afirmou Serra, em referência ao pagamento de bônus para 210 mil funcionários de escolas estaduais com bom desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado (Idesp). Esse é o segundo ano em que o Estado paga o benefício, que custará R$ 655 milhões aos cofres públicos e será depositado nesta quinta-feira na conta dos professores. "Vou dizer uma coisa para vocês: essa é daquelas mudanças das quais vamos nos orgulhar no futuro porque vai marcar época."

Para o tucano, sua gestão foi capaz de resolver "questões seculares", como a progressão da carreira do magistério. No ano passado, Serra institui o Programa de Valorização pelo Mérito, que permite reajuste de 25% a até um quinto dos professores a cada ano. O Sindicato dos Professores do Estado (Apeoesp) posicionou-se contra os programas de bônus e de valorização pelo mérito.

A única referência direta de Serra à Apeoesp (sindicato dos professores de São Paulo) foi ao citar o material didático usado no Programa Ler e Escrever. "O sindicato tem horror à apostila", afirmou. "O sistema de ensino incentiva a formação, a qualidade e o conhecimento. É um bom sistema, portanto. Ninguém pode ser contra isso. Ou não poderia."

Sem negociação

O secretário Paulo Renato reiterou que o Estado não reajustará o salário dos professores, como pedem os grevistas. "Não consideramos nesse momento um reajuste no salário-base", afirmou. "Eu mesmo não sei quais são efetivamente as reivindicações da Apeoesp. A cada dia vemos na imprensa uma lista de reivindicações diferentes."

De acordo com Paulo Renato há abertura para diálogo com os sindicalistas, mas a conversa esbarra nas "motivações políticas" da greve. "Eles declararam a greve sem ter conversado conosco."