domingo, 11 de novembro de 2012

Seminário: Carioba em Portugal

Historiadora americanense apresenta vila operária a pesquisadores internacionais Primeira vila operária do Estado de São Paulo e ainda hoje exemplo tecnológico no setor têxtil no Brasil, Carioba ganhou os mares e virou tema de uma apresentação em Portugal. Casa de Hermann Müller Divulgação Em outubro último, a historiadora Maria José Ferreira de Araújo Ribeiro contou a história dessa vila americanense durante o 3º Seminário Internacional do Patrimônio Agroindustrial, realizada na cidade de Regua Douro, região voltada para a produção de vinhos. O convite surgiu com a participação de Maria José na segunda edição do seminário, realizado em 2010, em São Carlos. Na ocasião, ela participou da mesa redonda sobre fazendas do interior paulista. O evento reuniu pesquisadores do mundo todo a fim de buscar projetos e relatos de como população, entidades e governos têm preservado sua identidade cultural e histórica. "Temos feito muita coisa em prol de nosso patrimônio, mas ainda não é o suficiente", comenta, em entrevista ao LIBERAL na última sexta-feira. No evento, a historiadora fez questão de ressaltar a participação popular, em especial de ex-moradores da vila, no processo. "Se não fossem os movimentos ocorridos na década de 80, muito provavelmente hoje não teríamos sequer um tijolo que nos lembrasse de Carioba", afirma. A fábrica foi um dos primeiros exemplos de verticalização da produção no país, ou seja, suas atividades tinham início no plantio de algodão, passavam pela confecção de fios e finalizava a cadeia na produção dos tecidos, posteriormente vendidos para todo o país. A hidroelétrica de Salto Grande é outra herança deixada. Foi a primeira do gênero na região, responsável pelo abastecimento da vila e das cidades de Americana, Santa Bárbara, Sumaré e Cosmópolis. Museu A preservação deste que foi o maior complexo industrial de Americana no século 20 ocorreu aos poucos. A casa de Hermann Müller hoje dá lugar ao museu e os galpões que sobraram da fábrica abrigam pequenas tecelagens. Para Maria José a ressignificação dos prédios contribui para conversação, mas não é o suficiente. "Precisamos de leis e projetos que protejam efetivamente esse patrimônio", ressalta. Durante sua passagem à cidade de Regua Douro, a historiadora pode ver na prática como esse processo ocorre nas fazendas de vinho. "Todas contam com incentivos e programas realizados pela municipalidade e pelo país. Essa questão é muito bem fundamentada ali. Cada vinícola tem sua história e sua particularidade. Você encontra fazendas construídas em séculos diferentes e em perfeito estado de conservação", conta. Projetos educativos como "Raízes", criado em 1997 e realizado com alunos da do Ensino Fundamental da rede pública de Americana, e "Lugares de Aprender", um projeto da Secretaria Estadual de Educação em parceria com o município, também foram apresentados em Portugal. "Esse é um bom início para que as futuras gerações possam aprender sobre sua história e tenham mais empenho com a questão", afirma Maria José. E acrescenta: "É preciso pensar no patrimônio histórico além da questão física, é também cultura e tecnologia. A educação é uma boa maneira de iniciar e continuar os trabalhos, mas ainda precisamos de mais". Breve história de Carioba 1875 - Engenheiro norte-americano William Houstouling funda a fábrica de tecidos que daria origem à Carioba. 1880 - A fábrica é vendida para os irmãos ingleses Jorge & Clement Wilmot e tem início a construção da vila operária. 1889 - A fábrica passa a ser chamada de Cia de Tecidos Carioba. 1896 - A indústria é fechada por causa de dívidas com o Banco do Brasil. 1901 - A propriedade vai a leilão e é adquirida pelo Comenador Franz Müller que chama para sócio o irmão e um engenheiro inglês dano origem à Rawlinson, Müller & Cia. 1902 - A indústria começa a funcionar e a vila operária ganha vida. 1907 - Aquisição da Fazenda de Salto Grande e início da construção da primeira hidroelétrica da região. 1911 - A hidroelétrica é inaugurada fornecendo energia para a agora Fiação e Fábrica de Tecidos de Algodão Carioba e para a região de Americana, Santa Bárbara, Sumaré e Cosmópolis. 1930 - A fábrica passa a ser chamada de Muller Carioba & Cia; início do trabalho à fação (desenvolvimento a partir de várias pequenas empresas têxteis). Americana passa a ser chamada de Capital do Rayon e um dos mais importantes polos têxteis do país. 1944 - Compra de Carioba pelo Grupo J.J. Abdalla. 1976 - As despesas duplicam. A receita da empresa é menor que os encargos trabalhistas e da própria vila. Carioba declara falência e fecha suas portas.

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